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'Poetize-se': confira os ganhadores do concurso de poesias

Atualizado: 13 de dez. de 2023


Eu já tenho meu veredito!

Nesta edição, tivemos pela primeira vez participações de outros campi, além de poetas de várias idades. Celebramos a Natureza e toda sua complexidade em versos de alunos/as/es do ensino fundamental, médio, licenciatura, do PROEJA, servidores e estagiários.

A banca de avaliação teve a participação de dois bibliotecários, dois professores de língua portuguesa e um advogado, todos servidores do Colégio Pedro II e com envolvimento e apreciação da Poesia.

A Biblioteca da Prôa agradece a todos os participantes, a todos os alunos e servidores engajados no Projeto Poetize-se, assim como à banca de avaliação – os professores Lyza e Tiago, os bibliotecários Tatyana e Leonardo e o integrante licenciado da nossa equipe, Marcos – e à aluna Letícia da Silva Malagueta pela arte de divulgação.


E as poesias com melhores avaliações foram:


1º lugar: "Verde é mais que uma cor". Autor: Giovanni Henriques Fraga – Campus Centro, Turma 2106

Meus pés são terra,

Meu choro é mar,

Meu riso é primavera,

Meus pensamentos são ar.


Originário de uma biodiversidade

Que transcende os limites da naturalidade,

Plantando a essência da verdade

Do ser verde além da humanidade.


Sou da terra, um pouco árvore,

Que purifica pulmões carregados

Das energias da terra sem mato,

Lotada de prédios e carros.


Fluindo na água do riacho,

Me perdendo e me achando, eu acho,

Quanto mais longe de casa me vejo,

Mais verde sinto e desejo.


Sem hierarquia em minha mente,

Me fundi ao mato, ainda sou gente,

Não vou ferir aquilo que me sustenta,

Pois se o fizesse, estaria me ferindo.


Meus braços, agora galhos,

Meus olhos, tornaram-se nuvens,

Minha voz, melodia natural,

Meu cabelo, paisagem ambiental.


A grama verde virou meu chão,

Os troncos, minhas paredes,

O céu, um belíssimo teto,

Aonde estou é incerto.


Me embolo nas videiras emocionais,

Apagando cada fragmento de partes digitais,

Me isolando de cadeias virtuais,

E me sentindo vivo nos dias fluviais.


Quando vejo meu amado irmão,

Causando nesse paraíso uma imensa destruição,

O trago para o verde libertador,

E lhe mostro uma fortaleza sem dor.


Me curei da supremacia humana,

Eliminando a poluição do meu sangue,

Me alinhei a seres interessantes,

Por que insistimos na espécie dominante?


A cada árvore que se derruba,

Menos vida se tem para essa gente,

Pois ainda não entendi em que momento

A Natureza para o homem se tornou indiferente.



2º lugar: "Baobá". Autora: Yasmin Flores – Campus Centro, Estagiária do SAE

Bato cabeça e peço a benção a todos os meus ancestrais que plantaram nessa Terra as frutas que hoje eu colho

Sei que não foi sem luta, mas gostaria que soubessem e que essas palavras ecoassem no Orum que sou grata pelo vosso plantio

A todes que passaram pelo Ayê e imprimiram amor nos braços do Povo em Pé

É através das árvores que sinto o vosso abraço


Bato cabeça e peço a benção ao Baobá

Choro as lágrimas que vêm do coração e transbordam os olhos regando o chão

Sinto o amor de uma mais velha que passou por ali

E como é bonito sentir

Que estamos juntas em coração


Que o amor que imprimo aqui, nesta árvore que é o viver, se perpetue e chegue até aqueles que ainda não chegaram na Terra, mas que hão de nascer

Que as crianças aprendam, desde pequeninas

Que luta também se faz com afeto

Que é ele, o amor, que rega a Vida e faz com que ela continue


Chegamos vivos até aqui

porque também nas senzalas tinha festa

E no canto e no corpo, mais do que dança, uma reza

As estratégias de luta e de manutenção da saúde mental são primordialmente do afeto


Aprendi com as árvores que se doar amor é sinal de abundância, é cacho forte, penca farta

E que esse amor vai se apresentar de diversas formas

Queira Oxum que não mais nos assassinem por amarmos quem amamos

Queira Oxumaré que nossos amores em cores também possam reverberar pelos ares


São tão múltiplas as folhas

Também tão diversas as pessoas

Que veneno e remédio

São irmãos gêmeos que habitam a mesma folha


As árvores me dão tudo

E não esperam nada de mim

Apenas que eu também cresça


Mas se engana quem pensa,

que as árvores crescem só

abaixo do solo, uma grande rede de raízes se faz

que se conecta e se comunica


Se eu fosse só, já não estaria mais aqui

Não sou só

Não ando só


Entre o Orun e o Ayê meu corpo caminha

Em cada folha, Ossain

Em cada árvore Oxóssi

A Terra é do velho

A água da chuva já foi de Oxum mas ela emprestou pra Oyá que devolve à Nanã regando as raízes do Povo de Pé


Quem sabe do mundo é o Tempo

Iroko Sô


Meus velhos, recebi de vocês a mensagem e transmito aos meus mais novos:


"Quem começou a luta pela liberdade nos navios tumbeiros, não viu o fim da escravidão.

Nem por isso a luta foi em vão.

Talvez eu morra sem ver muita coisa do que eu quero ver se modificar

Isso não quer dizer que não valeu a pena lutar."


Peço licença

Bato palma sim, é respeito!

Planto na terra a semente que quero ver brotar


Olorum queira, meu pai

Que eu a veja pelo menos germinar

Mas se eu voltar antes, meu pai

Eu agradeço por ter me permitido plantar

nesse chão, a semente da Justiça

regada de memória


Sei que não eu

Mas outros vão se alimentar

da reparação histórica

que nessa Terra há de brotar


Eu sou porque nós somos

aprendi com a mulher que lutou a partir dos nossos sonhos

que a vida é barra

mas que a gente aprende a se equilibrar


E quando menos se vê

medalhas estarão adornando o pescoço da melhor e mais completa ginasta do mundo


E quando menos se esperar

os povos indígenas suas terras irão retomar

os nomes e sobrenomes de origem africana os cartórios irão registrar

uma ministra negra uma cadeira no STF irá ocupar


Iremos então comemorar

a alegria de termos lutado, mesmo que cansados

Por sermos sementes vivas na Terra do esperançar.



3º lugar: "Ávido olhar". Autora: Esther Alves de Lima e Silva – Campus Centro, Turma 2108

Observo-o.

Prendo-me a cada detalhe com empenho.

Imponho meu julgamento sobre a matéria,

Cada fio de cabelo, cada linha em sua pele, cada trejeito.

Analiso-o com olhos de admiradora grave,

Embora com um sestro de afetação.

Tal afetação é meu castigo, razão de minha cólera,

Quisera eu ser capaz de dissimulá-la, sufocá-la.

Contudo, quanto mais me privo de olhar-te,

Mais te desejo, mais anseio fitar-te até sucumbir.

Não desejo tê-lo. Em verdade, este fulgor e esta luxúria

Que me transpassam são saciados pela simples observação.

Ter-te seria impossível e meu pecado é olhar-te.

Olho-o.

Estou faminta pela figura à minha frente,

Seria capaz de devorá-lo.

Percebo suas madeixas, negras como o ébano

E alinhadas em perfeita ordem,

Assemelham-se à grama recém-cortada

Sua alva pele tem a clareza, a suavidade de um jarro de porcelana

Olhos luzidios como um par de safiras,

Ao admirá-los sinto semelhante sensação a de ser tomada

Pela brisa marítima, cada vez mais veloz, cada vez mais intensa,

Cada vez mais impetuosa.

Contenho-me.

Mirar-te é um veneno.

Ao observar teus olhos dissimulados me sinto arrastada,

Entorpecida, presa neste mar revolto que é tua íris

Sou tingida de índigo, lentamente perco minha avidez

Devo parar, devo conter meus caprichos e volver ao meu orgulho.

Naufrago.

É inexequível resistir à tua imagem

Afoguei-me em teu olhar.


Pensara…

Pensara que, ao mergulhar naquele par de olhos, afogara-me.

Ressurjo, retorno à superfície.

E, ao longe, enxergo-te.

Aqueles teus olhos que antes tanto luziam, percebo que eram, em verdade, opacos.

Tuas madeixas que outrora foram grama verde, ébano frondoso,

Transformam-se em carvão,

Aquele belo sentimento, aquela primavera que habitara em mim,

Tu transformaste em devassidão.

Tua íris escurece, vejo um alaranjado reflexo,

Aquela clara porcelana está encoberta pela fuligem,

Desfeita em estilhaços.

Observo perplexa e tento entender como uma ação tua sem nexo

Fora capaz de revelar um paradoxo.

Não…

Fora capaz de expor minha própria ilusão.

Jamais me afogara no teu olhar.

Por engano,

Alimentara teu orgulho profano com grande emoção.




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